O Brasil está se posicionando na competitiva indústria global de semicondutores, aproveitando sua neutralidade política e incentivos fiscais. Com parcerias entre multinacionais e universidades, o país mira um mercado que deve alcançar US$ 1,5 trilhão até 2030. A capital gaúcha, Porto Alegre, destaca-se como um novo polo de desenvolvimento de chips, liderado por Júlio Leão, um especialista em microeletrônica.
Após a inclusão do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec) no Plano Nacional de Desestatização em 2021, muitos funcionários foram demitidos, criando um vácuo na pesquisa de semicondutores. Leão, então desempregado, propôs um projeto para reintegrar esses profissionais e estabelecer uma unidade de pesquisa financiada por capital privado. A iniciativa rapidamente atraiu o interesse de multinacionais, resultando na contratação de ex-funcionários do Ceitec.
A associação das empresas EnSilica e Impinj ao Parque Científico e Tecnológico da PUC-RS resultou na criação de duas design houses, focadas no desenvolvimento de circuitos integrados. Além disso, a HT Micron firmou uma parceria com a Unisinos para uma unidade de teste e encapsulamento de chips, fortalecendo ainda mais a infraestrutura local.
O setor de semicondutores é altamente especializado, com apenas quatro empresas dominando a fabricação de chips de última geração. Apesar disso, o Brasil está se inserindo em uma indústria que faturou US$ 533 bilhões em 2023, com expectativas de crescimento impulsionado pela inteligência artificial. A geopolítica dos EUA e da União Europeia também favorece a diversificação da produção fora do sudeste asiático.
O Brasil, segundo especialistas, deve avançar na criação de sua própria cadeia produtiva de semicondutores. Adão Villaverde, professor da PUCRS, destaca que a falta de chips pode comprometer a transformação digital do país, alertando que economias que não dominam essa tecnologia ficarão para trás.
Sob a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva, o governo lançou o Programa Brasil Semicondutores, ampliando incentivos fiscais para o setor. Com um investimento total de R$ 21 bilhões até 2026, o programa visa fortalecer as etapas de design e teste de chips, áreas onde o Brasil já possui expertise.
Além disso, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação está promovendo cursos de formação em microeletrônica, com o objetivo de capacitar novos talentos. A EnSilica, inspirada no modelo da Nvidia, planeja investir em propriedade intelectual e terceirizar a fabricação, aproveitando a qualidade dos engenheiros locais.
Com essas iniciativas, o Brasil se posiciona para se tornar um player relevante na indústria de semicondutores, buscando não apenas participar do mercado, mas também garantir sua soberania digital em um cenário global cada vez mais competitivo.