Após quase meio século da morte de Vladimir Herzog, o Estado brasileiro deu um passo simbólico e jurídico no processo de reparação histórica ao firmar um acordo de indenização de R$ 3 milhões com a família do jornalista. A decisão, concretizada pela Advocacia-Geral da União, representa um marco no reconhecimento da responsabilidade estatal pela violência perpetrada durante a ditadura militar. Vladimir Herzog, assassinado em 1975 nas dependências do DOI-CODI em São Paulo, tornou-se um símbolo da luta por democracia e justiça no Brasil. A reparação acontece no ano em que sua morte completa 50 anos, representando um gesto de reconhecimento oficial e pedido de desculpas do Estado brasileiro.
O acordo de indenização à família de Vladimir Herzog foi firmado em ato público na sede do Instituto Vladimir Herzog, em São Paulo, com a presença de autoridades, familiares e representantes da sociedade civil. O ministro da AGU, Jorge Messias, destacou o caráter histórico da reparação, classificando-a como uma mudança profunda na postura do Estado, que deixa de ser opressor para se tornar responsável e humanizado. O valor da indenização contempla danos morais e valores retroativos de pensão mensal à viúva de Vladimir Herzog, Clarice Herzog, concedida anteriormente por liminar da Justiça Federal.
Vladimir Herzog, jornalista conhecido por sua atuação crítica e comprometida com a verdade, foi uma das vítimas mais emblemáticas da repressão política no Brasil. Sua morte, inicialmente forjada como suicídio pelo regime, foi desmentida por sua família e por investigações posteriores, revelando um assassinato praticado sob tortura. A luta por justiça liderada por Clarice Herzog, agora com problemas de saúde, foi fundamental para manter viva a memória e a exigência por responsabilização. A indenização representa não apenas um amparo material, mas um reconhecimento público da gravidade dos crimes cometidos pelo Estado contra Vladimir Herzog.
O caso de Vladimir Herzog ganhou repercussão internacional e chegou à Corte Interamericana de Direitos Humanos, que condenou o Brasil em 2018 por não investigar, processar e punir os responsáveis por sua morte. A sentença reafirmou que crimes como os cometidos contra Vladimir Herzog são de lesa-humanidade e não prescrevem. O novo acordo firmado pela AGU é uma resposta àquela condenação e um passo importante para a efetivação dos compromissos assumidos pelo Brasil diante do sistema internacional de proteção aos direitos humanos.
A mudança de postura da AGU foi ressaltada por Ivo Herzog, filho de Vladimir Herzog, que relembrou momentos de constrangimento e dor vividos por sua mãe, Clarice, ao depor na Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Ivo reconheceu que o tratamento dado pela AGU ao caso de Vladimir Herzog no passado contrastava com o atual gesto de respeito, dignidade e compromisso com os valores democráticos. O novo acordo é, segundo ele, uma ruptura com a lógica anterior de defesa intransigente do Estado, marcada por insensibilidade e distanciamento da justiça real.
A reparação financeira à família de Vladimir Herzog foi estruturada com base na Constituição Federal e na Lei 10.559, que regulamenta os direitos dos anistiados políticos no Brasil. A negociação foi conduzida pela Coordenação Regional de Negociação da 1ª Região e pela Procuradoria Nacional da União de Negociação da AGU. O próximo passo será a homologação judicial do acordo, que simboliza não apenas um acerto legal, mas um ato de justiça e de memória coletiva. A reparação à família de Vladimir Herzog marca uma reviravolta institucional, na qual o Estado finalmente assume o papel de defensor dos direitos que outrora violou.
A trajetória de Vladimir Herzog é indissociável da história da redemocratização brasileira. Sua prisão, tortura e morte em 1975 geraram uma das primeiras manifestações públicas de resistência ao regime, com milhares de pessoas reunidas na Catedral da Sé em um culto ecumênico. Desde então, seu nome tornou-se sinônimo de luta por liberdade, imprensa livre e justiça. O Instituto Vladimir Herzog, fundado em sua homenagem, mantém viva essa missão e atuou como cenário do ato de assinatura do acordo de reparação. A memória de Vladimir Herzog, portanto, permanece ativa e inspiradora na construção da democracia brasileira.
O reconhecimento da responsabilidade pela morte de Vladimir Herzog não apaga o sofrimento causado, mas representa um importante gesto simbólico. O Estado brasileiro, ao pedir perdão publicamente e ao assumir os danos provocados por sua atuação durante a ditadura, reforça o compromisso com os direitos humanos, com a verdade e com a reparação histórica. O caso de Vladimir Herzog reafirma a necessidade de manter viva a memória das violações para que jamais se repitam. Sua luta, e agora a reparação à sua família, servem como alerta para a importância de instituições comprometidas com a democracia e com o respeito à dignidade humana.
Autor: Charles Moore