Presos nesta última terça-feira (26) na Operação Chicago, policiais civis, guardas municipais, funcionários comissionados da Prefeitura e advogados tinham diferentes papéis na organização criminosa suspeita de extorquir dinheiro de empresários em Indaiatuba.
A operação foi detalhada na tarde desta terça durante entrevista coletiva em Campinas (SP), na sede do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público Estadual (MP-SP).
Segundo os promotores de Justiça, as investigações apontam que o delegado titular do 1º DP de Indaiatuba, José Clésio Silva de Oliveira Filho, era o chefe da organização criminosa e que os outros integrantes atuavam em grupos dentro do esquema, as chamadas células de atuação.
Policiais civis e guardas municipais: invadiam estabelecimentos comerciais para forjar falsos flagrantes contra os empresários e fazer, indevidamente, apreensões de bens e dinheiro.
Advogados: atuavam como intermediadores no pagamento de propina, fazendo a contagem e o transporte do dinheiro, além de cobrar honorários sobre os valores extorquidos.
Servidores comissionados: atuavam no contato com os empresários extorquidos a fim de cobrar as propinas previamente exigidas.
“Ao delegado, neste momento na investigação, foi imputada a liderança dessa situação porque ele efetivamente firmava os documentos, como relatórios e instauração de inquérito policial. E os elementos são indicativo de que as propinas se destinavam a ele.”, explicou Paulo Carolis, promotor do Gaeco.
Segundo Carolis, essas foram as divisões de tarefas apuradas até o momento pela investigação e que podem ser melhor detalhadas quando ocorrer o oferecimento da denúncia à Justiça.
À EPTV, afiliada da Globo, a defesa do delegado José Clésio Silva de Oliveira Filho disse que não iria se manifestar ainda porque os autos do processo estão em segredo de Justiça.
A operação
Saiba como funcionava esquema que forjava investigações para extorquir empresários
Ao todo, promotores de Justiça, com o apoio da Polícia Militar e da corregedoria da Polícia Civil, cumpriram nesta manhã 17 mandados de busca e apreensão e 13 de prisão temporária (por 30 dias). 15 veículos foram apreendidos.
A suspeita é que os investigados tenham exigido, pelo menos, R$ 10 milhões de reais de propina desde 2022, para arquivar investigações que eram forjadas pelos suspeitos. Entre as vítimas, cerca de 10 proprietários estabelecimentos comerciais, como supermercados, lojas de roupas e estacionamento de veículos.
Itens apreendidos
Além de 15 veículos apreendidos, que serão usados para restituir os vens extorquidos das vítimas, policiais e promotores também apreenderam documentos e mídias na casa de investigados.
Na casa de dois servidores comissionados e de um guarda municipal, policiais do 1º Batalhão de Ações Especiais da PM (Baep) encontraram 2 pistolas, 1 revólver, 1 rifle, 59 caixas de anabolizantes e porções de crack e cocaína. Por isso, esses investigados também foram autuados em flagrante e devem responder outros crimes, como tráfico de drogas e posse ilegal de arma de fogo.
Alvos de prisão temporária
Segundo o Ministério Público, 14 mandados de prisão temporária, com validade de 30 dias, foram expedidos pela Justiça e 13 foram cumpridos, restando um foragido. As prisões podem ser prorrogadas por mais 30 dias ou ser convertidas em preventiva (por tempo indeterminado).
Clésio, o delegado do 1º DP de Indaiatuba;
Um escrivão;
Dois investigadores, sendo uma mulher presa na casa dela em Itu (SP);
Dois guardas municipais;
Três advogados;
Três funcionários comissionados da Prefeitura de Indaiatuba;
Um fiscal da Prefeitura de Indaiatuba;
Um décimo quarto indivíduo foragido.
Alvos de busca e apreensão
Foram ainda expedidos, por determinação da Justiça,17 mandados de busca e apreensão. Todos cumpridos nesta quinta:
Nos endereços dos 14 investigados;
No prédio do 1º DP de Indaiatuba;
Em dois escritórios de advocacia.
Crimes investigados
Extorsão mediante restrição de liberdade
Organização Criminosa
Roubo
Furto
Corrupção ativa
Invasão de comércios e fabricação de inquéritos
De acordo com o Gaeco, o grupo de Indaiatuba fabricava boletins de ocorrência, inquéritos e relatórios de investigação para sustentar exigência de pagamentos como preço de “resgate” de eventuais prisões decretadas ou garantias de não investigação.
Os boletins, as investigações e até as prisões eram forjadas. Segundo o MP, dezenas de empresários foram extorquidos no período de um ano. O valor das extorsões variava de R$ 1 a R$ 3 milhões.
Gaeco informou que os agentes de segurança entravam nos estabelecimentos comerciais escolhidos previamente por eles, faziam apreensões de bens, valores e mercadorias. Em seguida, eles registravam um boletim de ocorrência e começavam a ameaçar os empresários, exigindo os pagamentos, sob “pena de prisão”.
Em alguns casos, as prisões eram efetivamente realizadas e as pessoas só eram soltas mediante o acordo de propina.
Chicago
O nome da operação, “Chicago”, remete à cidade americana dos anos 20 e 30, quando gangsters governavam a cidade “à base de violência, desprezando a lei e criando fortunas com os crimes”. Pelo menos 15 promotores de Justiça, 10 servidores do Ministério Público, 94 policiais militares e 19 policiais civis participaram da operação.